Os Cuidados Paliativos (CP) segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) são cuidados de saúde especializados, prestados por uma equipa multidisciplinar que visam melhorar a qualidade de vida das pessoas doentes e suas famílias e / ou cuidadores, prevenindo e aliviando o sofrimento através da identificação precoce e avaliação minuciosa da dor e
outros problemas físicos, psicológicos, sociais e espirituais.
De acordo com a última informação disponibilizada pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS), em Agosto do corrente ano, sobre o acesso às unidades de cuidados paliativos – RNCCI percebemos que a maior proporção da oferta se encontra localizada na região de Lisboa e Vale do Tejo, correspondendo a 77% do total de camas contratualizadas nesta tipologia de cuidados. Concluíram também que entre 2021 e 2023, os estabelecimentos da rede e a capacidade contratada se mantiveram inalterados, nas regiões Centro e Algarve.
Estes dados demonstram um dos grandes desafios que os Cuidados Paliativos enfrentam em Portugal, pois apesar dos progressos, ainda há desigualdades no acesso a estes cuidados especializados, que deverão ser prestados na continuidade dos cuidados de saúde a todas as pessoas que, independentemente da idade, tenham um diagnóstico de uma doença grave e/ou avançada, incurável e progressiva que ameace a sua vida e o seu bem-estar.
Os dados demonstram que dos utentes referenciados para UCP-RNCCI, em 2023, 37% foram admitidos em unidades do SNS (UCP-RNCCI ou outra unidade da RNCCI), e cerca de 48% dos utentes referenciados durante esse período não foram admitidos por óbito anterior à admissão. Por fim, concluiu-se que 12% dos utentes referenciados e admitidos em 2023 residiam a mais de uma hora de viagem da UCP-RNCCI em que se encontravam internados.
Em Portugal, os doentes com necessidades paliativas, que se encontrem nos últimos meses, semanas, dias de vida, são integrados em listas de espera, burocracias infindáveis e exigências do sistema que não se coadunam com o seu tempo de vida e com os cuidados que exigem, pela sua fragilidade individual e familiar. Precisamos que se reconheça que os CP têm muito para oferecer em VIDA e que, quanto mais precocemente forem integrados na abordagem da pessoa doente maior será o seu benefício.
Considerando a tendência de envelhecimento da população, bem como o aumento da prevalência de doenças crónicas, oncológicas e doenças vasculares cerebrais, com consequente aumento da pressão sobre os cuidados continuados e paliativos, justifica-se continuar a crescer no número de camas disponíveis e apostar no desenvolvimento de equipas especializadas para esse efeito.
Acreditamos no impacto significativo que o aumento do número de camas de Cuidados Paliativos terá para a comunidade na melhoria da qualidade de vida, ajudando estas pessoas a viverem de forma mais confortável e digna. Estes cuidados deverão ser uma prioridade pois permitem que os doentes beneficiem de uma abordagem mais holística, a que todos deverão ter acesso, assumindo um papel ativo no seu processo de tomada de decisão relativamente ao seu presente e futuro. A SCML estará assim e uma vez mais a cumprir um desígnio que considera de primordial importância para a região e em especial para quem mais precisa.
INÊS GONÇALVES
Diretora-técnica UCCI