“PARA MANTERMOS A NOSSA MISSÃO HUMANISTA E CRISTÃ, PRECISAMOS DE SUSTENTABILIDADE”

A SCMLeiria é mais do que uma organização de solidariedade, é uma Instituição que personifica as 14 Obras Espirituais e Corporais da Misericórdia, a solidariedade e a compaixão. 

Nestes dois últimos mandatos de 2016 a 2019 e 2020 a 2023, continuámos a cumprir e a superar as metas da nossa estratégia de “Gerir Melhor, Apoiar Mais” com que nos comprometemos em 2015. 

Abrimos as nossas portas à comunidade, valorizámos os Irmãos da Irmandade e humanizámos os nossos serviços, demonstrando um compromisso inabalável com a dignidade e o respeito pela autonomia dos nossos beneficiários, através de uma gestão transparente e executiva. 
O ano de 2023 será o último ano deste segundo mandato da atual Mesa Administrativa e neste sentido importa fazer um breve balanço do nosso contributo para a Misericórdia de Leiria, assim como projetar o futuro para o 478º ano de história da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Leiria.

Iniciámos o primeiro mandato em 2016, com a imagem da Instituição muito debilitada, fruto das dificuldades financeiras que se vinham a degradar de forma significativa nos últimos tempos. Colocar as contas em dia foi o primeiro grande desafio.

Nos dois primeiros anos introduzimos um conjunto de alterações organizacionais indispensáveis para a necessária mudança de rumo da Instituição. Podemos afirmar que 2018, foi o ano de reforço da estratégia definida, mas também o ano de preparação para o futuro. Importante relembrar que “Gerir melhor para Apoiar mais” é o lema que resume a nossa estratégia para a Santa Casa da Misericórdia de Leiria.

Em 2016 a Mesa Administrativa encontrou uma organização financeira e economicamente desequilibrada. Com um passivo muito pesado, devido
aos financiamentos obtidos, pela dívida contraída de 2007 a 2009 que totalizaram € 9.700.000.

Em 2016, quando tomámos posse a divida era ainda de € 9.399.139. De 2007 a 2015, não foi pago o capital em divida estipulado pelos planos de amortização por falta de capacidade para o fazer. Em 2016, o valor dos juros não era significativo e por isso não tinha grande peso nos resultados da SCML. O Hospital D. Manuel de Aguiar recuperou significativamente a sua operação, tornando-a mais eficiente, onde no conjunto de todas as valências obtivemos os valores do EBITDA global e do EBIT global, suficientes para suportar os gastos com juros e alcançar Resultados Líquidos do Exercício positivos. Desta forma, esta Mesa Administrativa de 2016 a 2023 tem cumprido todos os compromissos das amortizações do capital e juros. No final do ano de 2023 terá amortizado, nos 8 anos de mandato, € 2.310.586 do capital financiado.

Hoje vivemos tempos sem precedentes. Nestes últimos 8 anos a Mesa Administrativa teve que gerir um processo de mudança organizacional,
encetar um processo de reequilíbrio económico e financeiro, uma pandemia que durou 2 anos, o crescimento da concorrência em Leiria na área da saúde, a degradação do valor das comparticipações do Estado vs. aumento acentuado dos custos fixos não controlados pela SCMLeiria e o aumento histórico do valor dos juros. Perante estes desafios, a Mesa Administrativa foi desenhando e concretizando várias estratégias que hoje permitem à Santa Casa da Misericórdia de Leiria olhar para o futuro com confiança e com plena consciência dos desafios que se seguem.

São três os projetos que a Santa Casa da Misericórdia de Leiria (SCML) decidiu abraçar, aprovados por unanimidade pela Assembleia Geral,
em parceria com o grupo Sanfil Medicina - hoje Global Health Company – GHC , e o grupo espanhol Hestia Alliance, e que contribuirão para
alterar o panorama da prestação de cuidados de saúde em Leiria. Em causa está a reconversão do Hospital D. Manuel de Aguiar para a prestação exclusiva de cuidados continuados e paliativos, a instalação de uma residência assistida para seniores e a criação de uma unidade de cuidados de saúde mental.

A ideia de transformar todo o edifício do D. Manuel de Aguiar numa unidade de cuidados continuados (com 80 camas) e cuidados paliativos (20 camas) surge das dificuldades em recuperar o investimento feito com a reabilitação do edifício e em fazer face aos prejuízos resultantes da atividade hospitalar. O Hospital teve um investimento enorme em 2008-2009 e a atividade de saúde, pura e simples, não deu sustentabilidade ao investimento que foi feito, em 15 anos de atividade, perdemos dois milhões de euros na atividade hospitalar. Em
contrapartida, na Unidade de Cuidados Continuados Integrados “libertámos um milhão de euros”, adianta Carlos Poço, lembrando que, em maio de 2022, a Misericórdia celebrou um contrato com a Sanfil Medicina, que assumiu a exploração do hospital por cinco anos.

A relação estabelecida com o Grupo Sanfil Medicina tem se mostrado muito boa e prudentemente foram-nos alertando que se a situação se
arrastasse não renovariam por outros cinco anos, reconhecendo que a atividade hospitalar de agudos não é economicamente viável no Hospital D. Manuel de Aguiar, com a chegada efetiva dos maiores grupos de saúde: com a construção do hospital da CUF, dos Lusíadas e do Grupo Luz Saúde, todos a iniciarem atividade nos próximos dois anos. Acresce ainda a construção de uma nova unidade da Sanfil.

Perante este cenário, a SCML decidiu apostar num acordo com a Global Health Company e a Hestia Alliance (que gere em Espanha 2.200
camas de cuidados continuados e paliativos em várias unidades, além de outras em saúde mental com várias centenas de camas), através do qual, nós cedemos o edifício e a nossa marca, e os nossos dois parceiros fazem o investimento para o remodelar e adaptar à atividade de cuidados continuados e paliativos. Foi a forma que encontrámos de transformar uma unidade que não é rentável por uma que é sustentável e que faz parte das opções do Governo. Já a residência sénior deverá ocupar a parte superior do atual Hospital S. Francisco. A futura residência deverá contar com 66 camas, e a futura unidade de saúde mental com 50 camas, encerra o terceiro pilar de serviços deste acordo tripartido.

Em Portugal não há unidades de internamento para doentes de saúde mental, para fazer face à procura e necessidade existente, porque o Estado não tem uma politica de apoio à saúde mental.

Neste sentido, o sector está a aguardar por parte do Governo a definição a curto prazo de um valor que permita avançar com projetos nesta área pois é absolutamente necessário e urgente. 

Acreditamos que só através de novas parcerias entre o setor social e o setor privado será possível encontrar um futuro sustentável para a Misericórdia de Leiria continuar a apoiar quem mais precisa e continuar a ser um prestador de serviços ao nosso Estado Social, com qualidade e humanitude. O setor da economia social deve ter uma reforma em relação à forma como olha para as suas fontes de financiamento, por de outra forma as IPSS’s e as Misericórdias não vão conseguir completar mais cinco séculos de existência.

CARLOS POÇO
Provedor