Como Terapeuta Ocupacional há seis anos no lar da Santa Casa da Misericórdia de Leiria, pretendo partilhar a minha perspetiva sobre os benefícios da Terapia Ocupacional na pessoa idosa, mostrando como este acompanhamento pode ser tão fulcral na vida das pessoas idosas. Nesta faixa etária, com tantos acontecimentos, tais como a morte do cônjuge, a separação da casa, distanciamento da família, perdas das funções mentais ou físicas, o processo de revisão de vida é fundamental que a intervenção se foque na manutenção de uma nova rotina, de criação de atividades significativas e no apoio desta transição ocupacional. Quando nos ligamos com pessoas idosas, a meta principal é manter neles a vontade de viver, fazendo-os sentir-se úteis e ativos, fugindo da solidão e tédio. É importante citar que a Ocupação é essencial para o desenvolvimento das capacidades básicas do ser humano e que existem desde a 1ª infância até à idade adulta, nas diversas atividades diárias, produtivas ou de lazer. Estas ocupações podem ser tão elementares como alimentar-se ou vestir-se, ou tão complexas como desempenhar uma atividade laboral. A Terapia Ocupacional defende isso mesmo, a promoção da saúde através do envolvimento ativo e eficaz em ocupações significativas. Neste sentido, a intervenção no contexto do lar é um processo vasto e de constante atualização. O uso de atividades comuns de forma terapêutica é um dos fatores que distingue um Terapeuta Ocupacional das outras profissões no ramo da saúde e da reabilitação. É importante referir que, se na teoria, é fácil separar/diferenciar entre dependência física e dependência mental, na prática verifica-se que estas duas dimensões estão interligadas, influenciando-se mutuamente. Por isso, temos de ter a capacidade para observar, motivar e ensinar estratégias para o estabelecimento de objetivos realistas. De uma forma muito prática, sou uma profissional que se preocupa com o que a pessoa “faz” e se a pessoa é capaz de “fazer” e se estas tarefas vão ao encontro dos seus desejos e necessidades. Deste modo, procuro habilitar os residentes a melhorar uso das suas capacidades, para que tenham o desempenho mais autónomo possível nas suas atividades do quotidiano. É de salientar ainda que a avaliação à pessoa, têm um papel fundamental, de modo a ser realizada uma intervenção adequada e eficaz, tendo sempre em vista as necessidades de cada um, assim como a sua identidade ocupacional. É primordial realizar uma avaliação detalhada, direcionada à cada caso em concreto e (não a conjunto de pessoas que tem em comum a faixa etária). Antes de tudo, é fundamental conhecer cada Perfil Ocupacional (história pessoal/clínica, rotinas, hábitos, interesses e necessidades), para delinear os objetivos prioritários. Para se avaliarem as funções mentais, motoras, emocionais e sociais, a avaliação foca-se principalmente no desempenho das Atividades da Vida Diária (AVD`s), uma vez que são os principais indicadores da autonomia da pessoa idosa. A avaliação é um processo contínuo e é determinada pela estimativa da sua força e debilidade, pelo reconhecimento de potencialidades e de possibilidades reais de desempenho das atividades quotidianas. Avaliam-se os componentes da capacidade motora (tónus, força/resistência muscular, amplitude articular, coordenação entre outros), as capacidades cognitivas (atenção, orientação, memória, etc.), a situação social (familiares e amigos) e o contexto físico (barreiras arquitetónicas e possibilidades ambientais) na perspetiva de segurança do idoso. Todos estes fatores são adaptados para obter o máximo conforto, tendo-se em conta as limitações funcionais dos residentes. Neste sentido, é fundamental proporcionar atividades com fim terapêutico, com o intuito de promover o bem-estar, mantendo a sua identidade ocupacional e dignidade. Sim, porque atualmente a sua casa é o lar e nós, a equipa multidisciplinar, somos a segunda família deles. De forma global, ser Terapeuta Ocupacional num lar exige polivalência para poder entender a essência de cada pessoa, o seu universo ocupacional complexo, para juntar as “peças” de cada “puzzle humano” e intervir de forma correta. A abordagem de avaliação e intervenção de Terapia Ocupacional é baseada em três pilares: ao nível da pessoa, da ocupação e do ambiente. Pretende-se assim estimular/desenvolver, manter, promover ou restaurar funções perdidas, prevenir disfunções e/ou compensar funções, através do uso de técnicas e procedimentos específicos e/ou da utilização de ajudas técnicas ou tecnologias de apoio. É importante salientar que, neste sentido, as atividades não são simplesmente para “ocupar” as pessoas, mas são métodos selecionados, com estratégias, procedimentos e objetivos terapêuticos. As sessões realizadas com os nossos residentes têm um carácter individual ou de grupo. Alguns dos exemplos de atividades de Terapia Ocupacional que decorrem no dia-a-dia são: Treino de Atividades de Vida Diária (higiene, vestir, alimentação), nestas áreas pretende-se que os nossos residentes sejam os mais autónomos possíveis, através de mobilização articular (passivas e ativas) e massagens terapêuticas. Realizam-se também sessões para promover as capacidades motoras, através de jogos de movimento, com o objetivo de estimular e/ou manter as competências motoras, para que os nossos idosos tenham uma vida ativa. Desenvolvem-se sessões de estimulação cognitiva, que se consistem em atividades personalizadas que promovem várias competências cognitivas, previamente sinalizadas em défice. Faz-se, ainda, a atribuição e treino na utilização de produtos de apoio para promover a marcha e diminuir os riscos de queda (disco de transparência, andarilhos) e das ajudas técnicas (talheres adaptados, tabuleiro, calçadeira, abotoadeira, etc.), com estratégias sugeridas para facilitar a participação e o desempenho ocupacional do seu quotidiano. Semanalmente são desenvolvidas Sessões de Arteterapia e Musicoterapia, como métodos complementares de intervenção, com propósito de estimulação multissensorial e proporcionar momentos de relaxamento, reduzir a ansiedade e melhorar o humor dos residentes. Com estas atividades pretende-se promover a saúde, restaurar e/ou reforçar capacidades funcionais, facilitar a aprendizagem de funções essenciais e desenvolver habilidades adaptativas visando auxiliar os residentes atingir grau máximo possível de autonomia. Em todas estas áreas, o objetivo principal resume-se na promoção da funcionalidade, autonomia e independência de modo a melhorar a Participação, a Bem-estar e Qualidade de Vida dos residentes no lar. Terapeuta Ocupacional na Santa Casa da Misericórdia de Leiria, Irinka Hristova