DEPRESSÃO E DOR CRÓNICA

Para a Organização Mundial de Saúde, em 2015 existiam, a nível mundial, mais de 300 milhões de pessoas com depressão (4,4% da população mundial), registando-se um número semelhante de indivíduos com algum tipo de perturbação de ansiedade. Muitas sofrem destas duas doenças simultaneamente.

A depressão é o maior fator a contribuir para o número de anos vividos com incapacidade, surgindo a ansiedade em 6º lugar.

Por outro lado, a pessoa com dor crónica sofre anos em silêncio, aguardando o alívio que tarda em chegar. Este sofrimento leva, muitas vezes, ao aparecimento da depressão ou de fenómenos de ansiedade com um grande impacto nas atividades da vida diária.

Segundo um estudo de 2012, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, a dor crónica atinge, em Portugal, 36,7% da população. Esse mesmo estudo refere que 13% destes portugueses reportaram ter depressão e 49% referiram que a dor interferia com o seu trabalho.

A dor crónica é uma dor prolongada no tempo, recorrente durante pelo menos 3 a 6 meses. Pode ter múltiplas causas e diferentes localizações. Com frequência, tem impacto na vida do seu portador, limitando a atividade, o trabalho, a relação com a família e com a sociedade. Leva a problemas económicos e sociais. Cria um grande impacto na sociedade, na família, no individuo.

Neste contexto, as Consultas/Unidades de Dor Crónica e os Cuidados de Saúde Primários têm desempenhado um papel muito importante no controlo da dor crónica. O objetivo principal é tratar a DOR TOTAL, ou seja, não só o sintoma físico, mas também as condições que resultam desse sofrimento, como a depressão ou a ansiedade. Para obter resultados, na maioria das vezes é necessário a ajuda de várias especialidades diferentes e de vários tipos de tratamentos. Por outras palavras, não se pode tratar a dor crónica apenas com medicamentos, embora estes tenham um papel fundamental no plano terapêutico. É obrigatório associar outras estratégias como a psicoterapia, a fisioterapia (onde se inclui a mesoterapia, entre outros tratamentos), a acupuntura, a hipnose clínica, ou até o exercício físico, adaptado à situação.

Destaco a hipnose, pois sendo uma técnica bastante antiga, tem ganho terreno, nos últimos anos, no tratamento complementar de algumas patologias, como a dor crónica, a depressão ou o stress emocional. Na Grã-Bretanha, já é um método utilizado no sistema público de saúde, no tratamento de doentes com dor crónica ou síndrome do cólon irritável.

A hipnose é um estado focado de atenção, de concentração. Ocorre naturalmente quando a nossa atenção está fixa numa coisa, absorvendo-nos de tal forma que tudo o resto desaparece. Envolve aprender como usar a sua mente e os seus pensamentos, de modo a lidar com o stress emocional, com sintomas físicos desconfortáveis (dor, náuseas) ou ajudá-lo a mudar certos hábitos ou comportamentos.

Em suma, tratar a dor crónica e as patologias a ela associadas, como a depressão e a ansiedade, é um desafio, que conta com a ajuda médica, mas também do utente. Deve ser sempre instituído um plano terapêutico adequado. Controlando a dor, o doente fica emocionalmente melhorado. Tratando a depressão ou a ansiedade, obterá mais relaxamento e tranquilidade para aceitar a presença da dor.

É este ciclo que deve ser trabalhado!

No Hospital Manuel d’Aguiar existe Consulta de Dor, bem como Consulta de Hipnose Clínica e Consulta de Mesoterapia. Foram criadas para dar resposta a esta necessidade de tratamento multidisciplinar da Dor Crónica e dos sintomas a ela associados.

DRA. EUNICE SILVA - MÉDICA ANESTESISTA DO HOSPITAL D. MANUEL DE AGUIAR

Noticia Diário de Leiria | 2 DE OUTUBRO DE 2019 QUARTA-FEIRA |